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CPI das apostas escancara o dilema: Vale tudo para vender?

Em sessão com Virgínia Fonseca, senadores questionam o papel de influenciadores na promoção de plataformas que enriquecem com a perda de milhões de brasileiros — e colocam a ética da publicidade no centro do jogo.

13/05/2025 às 15h47
Por: Yugi Vasconcellos
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© Lula Marques/Agência Brasil
© Lula Marques/Agência Brasil

Brasília – Em sessão marcada por forte repercussão nas redes sociais e atenção da imprensa, a influenciadora digital Virgínia Fonseca prestou depoimento nesta terça-feira (13) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, instaurada no Senado Federal para apurar o impacto das plataformas de apostas na vida dos brasileiros e possíveis vínculos com práticas ilícitas, como lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Com mais de 53 milhões de seguidores no Instagram e figura recorrente em campanhas milionárias de casas de apostas, Virgínia tornou-se uma peça estratégica para entender como essas empresas têm mobilizado a força de celebridades virtuais na atração de novos usuários, especialmente entre o público jovem.

Acompanhada do marido, o cantor Zé Felipe, e vestindo um moletom estampado com o rosto da filha, a influenciadora chegou ao Senado em meio a um esquema de segurança reforçado. Sua convocação foi solicitada com base em sua expressiva influência no ambiente digital. “Virgínia é uma das maiores personalidades da internet brasileira, com grande poder de engajamento. Seu envolvimento com marcas de apostas justifica sua oitiva”, declarou a relatora da comissão.

Na véspera da sessão, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que Virgínia permanecesse em silêncio durante o depoimento e estivesse acompanhada de seu advogado — direito assegurado durante toda a oitiva.

Contratos milionários e acusações negadas

Durante seu depoimento, Virgínia rechaçou a acusação de que receberia uma porcentagem direta sobre as perdas dos apostadores que acessassem os sites por meio de seus links patrocinados. A influenciadora confirmou o contrato com a empresa Esportes da Sorte, firmado em dezembro de 2022, mas contestou a versão publicada pela revista Piauí, segundo a qual teria recebido um adiantamento de R$ 50 milhões e lucraria 30% sobre cada perda registrada por seus seguidores.

“Esse modelo não existia no meu contrato. O que houve foi uma cláusula de bônus por performance, mas isso não se concretizou. Nunca recebi além do valor fixado para publicidade. Todos os meus contratos à época tinham cláusulas semelhantes, inclusive fora do ramo de apostas”, afirmou.

A reportagem da Piauí classificou esse tipo de vínculo como “cachê da desgraça alheia”, denunciando a remuneração proporcional às perdas dos usuários. O primeiro anúncio de Virgínia para a Esportes da Sorte foi veiculado em janeiro de 2023, gerando, segundo a publicação, cerca de 120 mil novos cadastros na plataforma.

Apesar do rompimento com a Esportes da Sorte, Virgínia assumiu novo contrato com a Blaze, estimado em R$ 29 milhões anuais — modelo semelhante, segundo a revista. Questionada sobre os valores recebidos em campanhas do setor, ela não revelou cifras, mas garantiu ter declarado todas as quantias à Receita Federal e se comprometeu a compartilhar os documentos da parceria anterior com a CPI, sob sigilo.

“Se faz tão mal, por que regulamentar?”

A influencer usou parte de sua fala para argumentar que atua dentro da legalidade e que jamais promoveu plataformas irregulares.

“Sempre deixo claro que se trata de jogo, que menores são proibidos e que é preciso responsabilidade. Nunca aceitei divulgar bets fora do que é permitido. Se decidirem proibir, acatarei. Mas então proíbam tudo: eventos, times, emissoras. Todo mundo tem bet hoje”, pontuou.

Ao ser questionada se consideraria encerrar suas campanhas com empresas do setor, respondeu: “Não vou mentir, eu vou pensar”. Na sequência, alfinetou a seletividade dos questionamentos: “Se o problema é a influência, chamem todos. Não sou a única”.

A senadora Soraya Thronicke (Podemos) lembrou que a divulgação de apostas por Virgínia teve início antes da regulamentação do setor, em dezembro de 2022. Em resposta, a empresária afirmou que as bets já operavam legalmente no Brasil, mesmo sem regulamentação específica, e que a estratégia de marketing por influenciadores é amplamente utilizada no mercado.

Outros nomes e valores

A mesma investigação da Piauí expôs cifras envolvendo outras celebridades: Gkay (R$ 1,4 milhão/mês), Carlinhos Maia (R$ 40 milhões/ano) e Cauã Reymond (R$ 22 milhões). A CPI promete ampliar a convocação de influenciadores e representantes do setor.

O depoimento de Virgínia Fonseca marca um dos pontos de maior visibilidade da comissão até o momento, reacendendo o debate sobre a responsabilidade de influenciadores na promoção de serviços sensíveis e o impacto da publicidade digital nas finanças populares. O relatório final da CPI está previsto para o segundo semestre deste ano.

Opinião

Em meio a cifras milionárias e contratos envoltos em confidencialidade, resta a reflexão: até que ponto vale a pena monetizar a vulnerabilidade alheia? Ao emprestar sua imagem a empresas que lucram com perdas — muitas vezes de pessoas em situação de desespero financeiro —, influenciadores se arriscam a transformar seu capital simbólico em passivo moral. Afinal, publicidade não é apenas um negócio: é também um pacto de credibilidade com quem assiste. E quando o lucro depende da queda do outro, talvez o espetáculo da influência precise de um intervalo ético. - Yugi Vasconcellos

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