São Paulo – A retirada de famílias da Favela do Moinho, localizada na região central da capital paulista, ganhou destaque nacional ao envolver diretamente os governos estadual e federal em uma articulação conjunta que combinou ação repressiva e oferta de moradia. A operação, conduzida pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em coordenação com a prefeitura de Ricardo Nunes (MDB), foi impulsionada por investigações do Gaeco sobre imóveis supostamente ligados ao crime organizado e resultou no esvaziamento de uma das áreas historicamente associadas ao chamado “fluxo” de usuários de drogas, conhecido como Cracolândia.
As ações policiais intensificadas nas últimas semanas e a presença da Tropa de Choque contribuíram para o esvaziamento da favela, que, segundo o governo estadual, funcionava como núcleo logístico do tráfico na capital. Em paralelo, imagens de repressão contra usuários de drogas e moradores circularam nas redes sociais e provocaram reações de entidades civis, partidos políticos e da opinião pública. A repercussão levou o governo federal a intervir diretamente na tratativa.
Na quinta-feira, o ministro das Cidades, Jader Filho, anunciou, ao lado do secretário estadual de Habitação, Marcelo Branco, um acordo de financiamento habitacional para as 800 famílias afetadas. O modelo prevê imóveis de até R$ 250 mil, sendo R$ 180 mil bancados pela União e R$ 70 mil pelo estado, além de um auxílio-moradia temporário de R$ 1.200 até a aquisição definitiva das unidades.
Apesar do entendimento entre os entes federativos, a condução da operação evidenciou o uso político da pauta. O governo estadual ressalta o protagonismo na execução da operação e na repressão ao tráfico, enquanto setores ligados ao Planalto destacam o papel do governo Lula (PT) na viabilização de soluções habitacionais e na redução dos danos sociais causados pela desocupação. A cooperação, ainda que funcional, foi marcada por tensões administrativas, especialmente com a SPU (Secretaria do Patrimônio da União), que detém a propriedade do terreno.
O episódio ocorre em meio ao avanço do projeto de transferência da sede administrativa do governo paulista para a região dos Campos Elíseos, vizinha à Favela do Moinho. A proposta, anunciada por Tarcísio ainda na campanha eleitoral, prevê a assinatura de contratos até o fim de 2025 e a desapropriação de imóveis a partir de 2026. Estima-se que pelo menos 600 famílias sejam diretamente impactadas.
Ao mesmo tempo em que a operação é apresentada como um marco de reurbanização e combate ao crime, também representa um movimento estratégico para fortalecer politicamente figuras-chave no cenário estadual e federal.